sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Da Realidade e do Sonho


"O que vejo, o que sou e suponho não é mais do que um sonho num sonho."

(Edgar Allan Poe)



Mas afinal o que é a realidade?

A definição do senso-comum mais abrangente seria provavelmente: “Tudo o que existe”.

Os cientistas em geral usam frequentemente o termo “realidade” como um sinónimo para “Universo físico”. Contudo, de acordo com a neurofisiologia actual, o universo físico apenas existe hipoteticamente, uma vez que apenas o podemos experimentar de forma indirecta através de estimulações neurais. É aquilo a que podemos chamar de “Experiência-no-Corpo”- IBE (In the Body Experience) na terminologia anglo-saxónica.
De acordo com esta teoria, a realidade física que de facto experimentamos parece ser apenas uma estimulação imperfeita e uma abstracção de um universo físico cuja existência apenas podemos inferir, e nunca directamente corroborar.
Contrastando com esta posição podemos assumir uma atitude descritiva ao usar o termo realidade. Assim, de um ponto de vista fenomenológico, o termo realidade refere-se ao mundo da experiência directa, o mundo em que vivemos. Nesta perspectiva, a realidade experimentada nos sonhos ou noutros estados alterados da consciência (como em estados meditativos ou provocados pelo consumo de substâncias psicoactivas) não é menos válida que a realidade experimentada no normal estado de consciência, aquele em que nos encontramos durante a vigília, na maior parte do dia. Ou seja, os sonhos e a vigília são apenas modos distintos de percepção da realidade.
Um estado de consciência é como um filtro ou lente, através do qual vemos o mundo. Assim, durante a vigília experimentamos a realidade de uma determinada forma, somos inundados por estímulos perceptivos. No sonho experimentamos a realidade segundo um modo perceptivo diferente, um modo em que estamos “fechados” para o mundo exterior. O mesmo se passa num sonho lúcido ou numa trip sob efeito de cannabis; cada estado tem a sua realidade característica.
Infelizmente, na nossa sociedade o termo “sonho” adquire sentidos indesejáveis que prejudicam a nossa compreensão da sua real natureza e importância. Por exemplo, muitas pessoas usam frequentemente a frase: “Foi apenas um sonho”. Isto assenta muito bem na perspectiva comum de que os sonhos não são reais e portanto não são importantes, não são dignos de uma atenção séria, sendo melhor esquecer do que lembrar.
Em relação à natureza dos sonhos, cada indivíduo normalmente efectua um juízo, uma assumpção em sintonia com os seus preconceitos pessoais e/ou culturais (Kellogg, 1989). Por exemplo:
1.Sonho = simplesmente as projecções subjectivas do cérebro adormecido de uma pessoa.

2.Sonho = Um mundo espiritual totalmente diferente e independente.

3.Sonho = Um reino parapsicológico com elementos tanto objectivos como subjectivos.

4., 5., etc…

Uma vez realizados, estes juízos cristalizam-se e tornam-se praticamente inquestionáveis.
Alguns cientistas certamente acreditam que uma aceitação inquestionável da actualmente popular teoria do sonho tal como sumariado no juízo 1., define a verdadeira natureza dos sonhos. Mas para muitos outros, tal definição parece ser simultaneamente limitativa e ingénua. O mundo onírico constitui-se como um universo próprio, uma realidade com as suas próprias leis e, tal como as outras realidades, é uma criação da nossa própria mente.

Fonte:
http://sites.google.com/site/arcadesonhos/afilosofiaonirica

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