quarta-feira, 30 de junho de 2010

O ego e os relacionamentos amorosos

Hoje vou partilhar como o egohumano afecta e prejudica a vida amorosa.

CIÚMES

Esta simples, muito comum e fácil de compreender. Ciúmes é um fenómeno que ocorre quando determinado ego se apercebe que outro ego está a obter atenção de alguém de quem ele deseja obter atenção. Por exemplo, um homem conhece uma mulher e anda a sair com ela. A certa altura ele sabe que ela anda a sair com outros homens, e apesar de não terem nada um com o outro, ele fica com ciúmes. Ele não gosta que ela ande a sair com outros homens, porque enquanto ela anda a sair com outros homens, está-lhes a dar atenção/validação. Atenção/validação essa que poderia lhe estar a dar caso não estivesse com eles. O ego vê então o outro como um obstáculo e inimigo a abater, e por causa ciúmes o ego é capaz de tudo. Ele não sente que está a ser o especial, e por isso sente-se inferiorizado, e não gosta. E vai fazer tudo o que poder para se ver livre disso, e mudar essa realidade.

Esteja numa relação com alguém ou não, o ego vai sempre sentir ciúmes quando a pessoa de quem ele quer obter atenção/validação, a está a dar a outra pessoa qualquer. O que o ego não consegue perceber é que ninguém lhe tem de dar atenção especial e exclusiva. Ninguém é responsável por lhe aliviar o vazio interior e a baixa auto-estima. Ele é. Somos nós próprios que temos de transcender a nossa necessidade de obter atenção/validação, de sermos aceites. Os outros têm todo o direito e liberdade de não o fazer, e de estar com quem bem entenderem. De darem a atenção a quem quiserem. Principalmente se não estão numa relação íntima com ninguém. Caso estejam, a questão não é que não estão a dar atenção especial ao ego e a estão a dar a outra pessoa, e este tem de arranjar uma solução para só lha darem a ele. A questão é perceber que essa pessoa pode não ser íntegra e de confiança e acabar a relação com ela. Não pelo que não se está a obter dela, mas por quem ela se está a revelar ser. Se ela de facto está numa relação íntima com alguém e anda a conhecer pessoas do sexo oposto e a sair com elas, muito provavelmente não é o tipo certo de pessoa.
Ciúmes destroem relações e são sempre desnecessários. Não são uma prova de que se gosta da outra pessoa, são uma prova de que se precisa de obter algo da outra pessoa que ela está a dar a outra pessoa que não nós. São uma prova de que se tem um vazio interior que queremos que seja a outra pessoa a preencher, que é essa a sua responsabilidade. Mas não é. Nunca é. A responsabilidade é apenas nossa.

MEDO DA REJEIÇÃO / MEDO DE NÃO SER ACEITE, APROVADO ou VALIDADO

Há uma coisa que paralisa sempre o ego: o medo de ser rejeitado. O ego está sempre preocupado com o que os outros pensam dele e de como as coisas vão correr. Ele precisa de resultados, reacções e opiniões positivas para se sentir bem com ele próprio, pois constrói a sua identidade através do que acontece no mundo material. Se for bom ele acha-se o maior e melhor que os outros, e sente-se bem. Se for mau, ele vai-se abaixo, sente-se triste ou furioso, e procura ver-se livre da causa dessas emoções negativas.

Quando um ego vê alguém do sexo oposto por quem se sente atraído, ele fica paralisado pois tem medo dessa pessoa não o aceitar. Pois para ele não ser aceite é ser fraco e inferior, é uma prova do seu baixo valor. Quem é controlado pelo seu ego nunca conhece lá muitas pessoas do sexo oposto, principalmente do tipo que mais deseja, pois é sempre bloqueado por este medo e nada faz.

Ou então só conhece aqueles que tem a certeza que o vão aceitar, pois aí é seguro.
É garantido que não vai ser rejeitado.

Em relação a conhecer pessoas o ego arranja duas “soluções”:

1. Detectar demonstrações de interesse.

Esta é clássica. Como o ego tem medo de ser rejeitado, ele procura tudo aquilo que lhe possa garantir que não vai ser rejeitado. Ele procura perceber se a outra pessoa está interessada, se é seguro ir lá. O ego só se mete em jogos que sabe que vai ganhar. Se fosse um clube de futebol iria apenas jogar contra as equipas teoricamente muito mais fracas. Ridículo. É um sistema de defesa que vem de fraqueza. Da fraqueza de não saber lidar com a rejeição, por isso procura evitá-la ao máximo. Portanto o ego adora analisar todos os sinais que possa para perceber se vai ser seguro ou não. Se vai ser aceite e validado ou não. E ele precisa disso. Outra coisa que ele gosta muito de fazer é depois de ser rejeitado tentar dar a volta à situação. Ele não consegue mesmo viver sabendo que houve alguém que não gostou dele e não o quis conhecer, ou falar com ele.
Mas a Verdade é que rejeição apenas significa incompatibilidade. Não significa que se tem menos valor que a outra pessoa, ou que não se tem valor. Significa apenas que se é diferente da outra pessoa, que segue um caminho diferente, e que por isso não é possível haver naturalmente uma boa interacção, ligação ou relação entre ambos. Mas como o ego se identifica com tudo o que surge, isto preocupa-o. Ele precisa sempre da esmola emocional para aliviar o vazio interior. Para se conseguir sentir bem com ele próprio.

2. Manipulação

O medo de ser rejeitado faz tanto o ego tentar perceber se é seguro lá ir falar, perceber através da interpretação de sinais se vai ser aceite ou não, como também tentar controlar a pessoa para evitar ser rejeitado. Aqui entram todos os truques, esquemas, desonestidade, falsidade e jogos do costume, nos quais vale tudo para ser aceite e não ser rejeitado. Nesta situação não há qualquer consideração pela outra pessoa, ela é vista como uma mera fonte de validação, atenção ou de prazer físico de quem se tem de sacar algo a todo o custo.
O ego tem sempre medo de ser rejeitado e não sabe lidar com a rejeição por isso tenta evitá-la ao máximo, seja antes de ir conhecer a pessoa através da interpretação de sinais, seja durante a interacção através de manipulação. É uma fraqueza, um busca desesperada por evitar ser rejeitado. Mas rejeição não significa nada relativamente ao nosso valor pessoal. Se de facto não estamos a ter consideração pela outra pessoa, não estamos a contribuir, temos más intenções e estamos a ser falsos, então sim, revela algo sobre o nosso comportamente e atitude. Mas caso contrário, é apenas uma demonstração de incompatibilidade.

Nós não agradamos a todos, nem nunca iremos agradar a todos. As pessoas são diferentes umas das outras, e apenas atraimos o que somos. Haverão sempre pessoas que não gostarão de nós, seja porque razão for. Isso não significa que não prestamos e que não temos valor, apenas que somos diferentes delas. Claro que para conhecermos alguém temos de criar naturalmente desejo nessa pessoa, mas isso nada tem a ver com procurar sinais de interesse ou manipular. Tem a ver com evoluir socialmente, tornar-se naturalmente atraente, com desenvolver qualidades, adquirir uma compreensão profunda sobre essa actividade, etc. Mas isto não garante que não sejamos rejeitados, não garante que consigamos conhecer todas as pessoas que desejamos. Significa que temos a escolha, conseguimos fazer as coisas acontecer. Conseguimos ir lá falar, e quando a pessoa é compatível connosco, nós vamos conhecê-la. Quando não é, ela não irá querer falar connosco. Nesse momento haverá uma demonstração de incompatibilidade. Haverá uma “rejeição”. Mas neste nível de consciência acima do ego a rejeição tem outro significado (o certo), não nos afecta, não nos incomoda, não nos mete medo, não nos paralisa ou bloqueia, e não nos faz ter a necessidade de através de sinais ter a certeza que não vamos ser rejeitados, ou ter a necessidade de manipular e controlar para não sermos rejeitados e sermos aceites à força toda.

Rejeição é uma ferramenta preciosa de selecção consciente. Usa-a para teu benefício.

TRAIÇÕES

Outra comum e fácil de compreender. O ego trai pois só quer saber do que obtém, não quer saber dos outros. No momento em que trai, o ego só está a querer saber do prazer que está a obter, do que está a ganhar, e não está a querer saber do outro com quem tem uma relação. É uma clara manifestação de separação e da mentalidade “eu só quero verdadeiramente saber de mim, das minhas necessidades e desejos”. Zero compaixão. As pessoas que traem apenas estão a demonstrar como são, o seu nível de consciência, que vivem controladas pelo seu ego, e que uma relação com elas dá sempre no mesmo: traição.

JOGOS

Dos jogos fazem parte qualquer acto de manipulação ou tentativa de controlo. O ego precisa de sentir que é o melhor e é quem está a ganhar, logo precisa de fazer jogos. Jogos também o “safam” de ser rejeitado. Em vez de ter prazer em conhecer alguém, de ter interacções estimulantes, de se divertir com alguém e de contribuir para a vida de alguém, ele faz jogos para a outra pessoa andar atrás dele, a validá-lo. Faz-se de difícil, inacessível, distante, faz saudades, faz ciúmes, faz os famosos jogos da distância e das migalhas, não responde, procura tirar valor ao outro, é antipático, dar falsas esperanças, etc, etc. O ego adora sentir-se perseguido e desejado, contribuir é que está quieto. Anda ali a criar um mega trailer sobre si, quando depois vai-se a ver o filme e não é lá grande coisa. É a dinâmica dos trailers: “olha que eu sou muito bom, vem ver-me”. O flyer é bom, mas depois a festa é uma desgraça. Jogos são uma forma de se criar desejo artificial para se obter validação, mas aquele que faz jogos e manipula nunca tem na verdade nada de especial para oferecer, contribuir e partilhar. Vive à caça de validação, nada mais. Procura preencher um vazio interior, não tem verdadeira consideração pelos outros a não ser quando sente ou sabe que vai obter ou pode obter algo deles.

RELAÇÕES como NEGÓCIO de VALIDAÇÃO/SEXO

Para o ego humano a vida amorosa é uma oportunidade para se aliviar o vazio interior. Uma oportunidade para se OBTER, e não para se CONTRIBUIR. E nesta dinâmica de necessidade e carência surge um fenómeno chamado o negócio de validação. Isto é muito simples: um ego precisa de algo de outro ego, e ambos se apercebem disso. Então o 1º ego dá ao 2º ego aquilo que ele precisa, seja mais emocional (validação) ou físico (sexo), na condição do outro lhe dar aquilo de que precisa. É um “amor” condicional. “Eu preciso de validação/sexo e tu queres validação/sexo, logo eu dou-te validação/sexo e tu dás-me validação/sexo. Mas se não me dás validação/sexo também já não levas validação/sexo. Dá-se para se obter, e quando não se está a obter também não se dá. Nestas relações não se gosta do parceiro, mas sim do que se obtém dele. E as simpatias e elogios são uma mera reacção ao que se obtém dele, e não um genuíno fascínio por ele, pelo Ser que é. Pois se assim fosse dava-se mesmo quando não se recebia. Receber tornar-se-ía irrelevante, pois a relação seria vista como uma oportunidade para contribuir e partilhar, e não para satisfazer carências pessoais. O ego precisa de meter sempre algo aos bolsos, por isso quando ele controla dá sempre neste tipo de relações. Se for um negócio de validação ou de “amor” (atenção especial), a relação será de dependência e muito disfuncional, assombrada pela insegurança atroz constante de perder o outro (como se fosse um objecto comprado que de repente é propriedade de alguém). Quando é mais um negócio de prazer físico (“quero ter um orgasmo mas não sei ter uma ligação autêntica e profunda com outro ser humano, pois só quero saber de mim e do que obtenho”), temos uma relação fast-food, superficial, das curtes e dos meros encontros sexuais.
Nem uma nem outra têm qualquer mal, mas são extremamente incompletas, e mais uma fonte de sofrimento, insegurança e preocupações do que outra coisa qualquer. É importante perceber que há um tipo de relação muito mais completa, integral, e estimulante a todos os níveis para AMBOS os parceiros, e que por isso não se tem de ficar por estes dois tipos.

COBRANÇA DE ATENÇÃO e PROIBIÇÕES

Estes são também simples. O ego precisa de atenção, logo quando ele não a está a obter, vai cobrá-la. Como só quer saber de si próprio, para ele os outros podem sempre dar-lhe atenção quando ele deseja. Podem e devem, e é a sua responsabilidade. Como se os outros não tivessem vida, como se os outros não tivessem o seu próprio caminho para percorrer e lições para aprender. Esta cobrança de atenção acontece tanto em relações como fora delas, mas mais especialmente nas relações negócio de validação. É quando um dos parceiros exige ao outro que este lhe dê atenção. “Devias ter-me telefonado”, “Não devias ir ter saído com os teus amigos. Foste sair com eles e não foste sair comigo”, “Nunca mais disseste nada”, “Nem sequer perguntaste como foi”, etc, etc. É quando um dos parceiros sente que o outro devia ter dado atenção e não deu. Devia ter-lhe aliviado o vazio interior e não aliviou.

Isto leva ao fenómeno das proibições.

O ego, para evitar não obter atenção do parceiro, vai proibi-lo de fazer tudo o que potencialmente o possa fazer perder essa atenção/validação. Então é proibi-lo de sair com os amigos, de sair com as amigas à noite, de vestir mini-saia ou usar decote, andar a controlar quem telefonou, onde está, com quem está, o que está a fazer, etc, etc. Tudo o que o afaste dele ou que o faça poder conhecer alguém e perdê-lo. Mais uma vez não é uma demonstração de que gosta dele, mas sim de que precisa de algo dele, da sua atenção e validação.

Na sua essência, o ego vê a vida amorosa e o sexo oposto como uma oportunidade para satisfazer carências, desejos e necessidades pessoais, e não como uma oportunidade para partilhar algo e contribuir para a vida do outro, fazendo-o feliz. Não há nada de errado em satisfazer carências, desejos e necessidades pessoais em si, mas como o ego nunca tem o outro em consideração é sempre apenas uma questão de tempo até fazer algo que prejudique o outro e o faça sofrer. O ego claro também se prejudica a si próprio e causa sofrimento a si próprio, pois vive em constantes bloqueios, preocupações, problemas e medos desnecessários, que nunca o deixam criar e ter a vida amorosa extraordinária que deseja com o tipo de pessoa que deseja.


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