quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma das barreiras à expansão da consciência

Uma das principais barreiras à expansão da consciência é o ego humano além também da causa de todo o sofrimento do homem. O ego está sempre completamente à mercê do que se passa no mundo material, pois tudo o afecta, tudo o incomoda. E depois, porque o ego humano é a noção de eu separado, este funciona tendo-se apenas a si em consideração, acabando assim por não querer saber dos outros prejudicando-os, e apenas estando concentrado no que pode ganhar, no que deseja, em como pode sair beneficiado ou obter o que quer.

Agora imagina milhões de egos a circular por aí... e o consequente caos e constante sofrimento. Bem-vindo ao nível de consciência actual da humanidade.

Para perceberes melhor todo este processo, é essencial que leias o último post.

Hoje vou partilhar quais são as mais comuns reacções, decisões e atitudes do ego humano. Isto vai ajudar a compreender melhor que tipo de coisas vêm directamente do ego e devem ser evitadas para evitar consequências negativas e sofrimento. Estas claro não são todas, mas uma lista das 10 mais comuns. E não é muito difícil encontrá-las... basta saíres à rua 5 minutos. O difícil está em detectá-las em nós e não as deixar controlar-nos. O difícil está primeiro em detectá-las, parar e não as seguir, e depois eliminá-las de vez e substituí-las por outra coisa... que só se atinge subindo de nível de consciência.

1 – Julgamento

O ego humano vive em constante julgamento. Está sempre a colocar rótulos às pessoas e situações/resultados/circunstâncias. O passatempo favorito do ego (porque o faz sentir-se melhor consigo próprio) é julgar e criticar os outros, dando-lhes uma identidade de baixo valor, inferior à sua. Uma coisa é apercebermo-nos que de facto alguém, pela forma como vive a vida (controlada pelo seu ego) não é uma boa escolha para se ter uma ligação, amizade ou relação íntima. Outra coisa é odiar essa pessoa, e falar/pensar sobre ela com raiva criticando-a, chamando-lhe nomes, etc. É desse tipo de julgamento que falo. Quando alguém comete um erro, falha, faz algo que a pessoa não gosta, etc, o ego salta logo em julgamentos raivosos de ódio. Como um cão raivoso a ladrar descontroladamente a um desconhecido que está a entrar na casa do dono. O objectivo destes julgamentos é claramente inferiorizar a outra pessoa (superiorizando quem julga), fazê-la sentir-se mal com ela própria (uma espécie de vingança emocional) e castigá-la de alguma forma. No fundo resume-se tudo à expressão “Tu és pior que eu!”. Estes julgamentos são completamente desnecessários pois todos os seres humanos têm o mesmo valor, sejam eles quem forem, façam eles o que fizerem, e não são palavras, textos verbais ou mentais, que vão mudar isso.
E para julgar o ego pega em tudo: a roupa que a outra pessoa está a usar, alguma atitude que teve, algo que disse, um crime que cometeu, algo que não fez e que podia ter feito, etc. Vem tudo de raiva interior e ódio e não tem qualquer utilidade. Julgar alguém é como beber o veneno e pensar que a outra pessoa vai morrer. Está-se apenas a criar em nós emoções negativas inúteis e nada mais. A pessoa que julga e critica constantemente os outros, está-se a colocar em estados de raiva e ódio prejudiciais para tudo... é como mergulhar voluntáriamente num esgoto podre. Claro que ao fazer estes julgamentos o ego se sente melhor com ele próprio pois está a superiorizar-se a alguém. Mais uma vez só está a pensar nele próprio e não está a ter os outros em consideração. Pois como já disse, todos temos o mesmo valor, e todos sofremos na vida. Mas no desporto do julgamento o ego não consegue ver que está a julgar outro ser humano, que não interessa quem é ou o que fez, tem o mesmo valor que ele e que também vive a tentar e a esforçar-se para se sentir bem e eliminar o seu sofrimento. Claro que uns fazem-no com consideração pelos outros, e outros não, mas isso trata-se de descobrirmos as coisas e saber distingui-las através de Selecção Consciente e não de reacções de julgamentos raivosos de inferiorização.

2 – Comparações e Competição

Este é muito comum. Um mais passivo, o outro mais activo. Só se podem comparar duas coisas separadas... e porque o ego só tem a noção de eu separado dos outros, vai-se sempre comparar aos outros para verificar o seu valor pessoal. Muitas mulheres passam a vida a comparar-se umas às outras em termos de beleza. Se a mulher que vê outra e se compara achar que a outra é mais bonita, vai-se sentir mal com ela própria e catalogar-se de feia. Se se achar maios bonita vai criticar a outra (julgamento) e sentir-se bem consigo própria até surgir alguma mulher que ela considere mais bonita. Isto é completamente desnecessário, e concursos de beleza são das criações mais patéticas do ser humano, pois só contribuem para a baixa auto-estima de mulheres fantásticas que na verdade são bem atraentes ao contrário do que pensam. A moda também ajuda muito nesse aspecto.

Mas voltando às comparações, o ego só se consegue sentir bem com ele próprio quando chega à conclusão que é melhor que alguém nalguma coisa. Seja uma mulher sentir-se mais bonita que outra, seja outra coisa qualquer como comparação de vida – ou seja, achar-se que se é pior que alguém porque a outra pessoa tem mais dinheiro ou tem mais quantidade e variedade material que nós. Então compara-se a roupa, o corpo, a cara, o emprego, os resultados, os amigos, quantidades, variedades, preços do que se tem, áreas da vida, saúde, objectos, namorada, namorado, etc. O ego não aguenta que alguém tenha uma televisão melhor que ele... não aguenta que o namorado da amiga seja mais fixe que o dela... e não aguenta esse tipo de coisas pois cria a sua identidade e valor através delas. E se elas lhe dão uma identidade e valor não desejados, valor baixo, o ego fica tramado pois não quer ser assim.
Vai sempre haver alguém com mais do que nós, e sempre alguém com menos do que nós. Vai sempre haver alguém melhor que nós, e alguém pior que nós. Isso não significa absolutamente nada. Ser mais bonita ou menos bonita que outra mulher não significa absolutamente nada. Ter mais amigas ou menos amigas que outro homem não significa absolutamente nada. A única coisa que interessa é se estamos a seguir o caminho que desejamos ou não, e se estamos a criar a nossa vida como a desejamos ou não. Compararmo-nos aos outros é inútil. Não temos que ser como os outros, nem sequer melhor que eles. Temos que ser nós próprios, Autênticos. Porque a pessoa “A” pode ter mais dinheiro que a pessoa “B”... porque depende disso. Vive dependente do materialismo, é escrava de compras e dos alívios que o dinheiro pode trazer. Enquanto que a pessoa “B” não precisa disso para nada para se sentir realizada e em paz, e tem uma vida amorosa e social extraordinárias tendo pouco dinheiro, e a pessoa “A” tem muitos objectos, janta muitas vezes fora, viaja muito, mas não as tem. As comparações são inúteis.

Depois vem a competição, que é uma forma de comparação activa. Há muito disso no desporto. Não há nada de errado com o desporto em si, mas sim e apenas na atitude de competição: “Eu tenho que ser melhor que ele!”, “A minha equipa tem de ser melhor que a deles!”. Claro que isto não existe apenas no desporto, bem pelo contrário, há muito mais fora do desporto. Sempre que dois seres humanos estão activamente a comparar capacidades e qualidades, chama-se a isso competição. É a dependência do ganhar. É a atitude de “Eu tenho que ganhar, custe o que custar. Eu tenho que sair disto visto como o melhor!”. E depois muitas vezes o ego acaba por fazer batota e até tentar eliminar o adversário. Não é a actividade em si que o apaixona (o jogar futebol, o conduzir um carro, o cantar), é o desespero pela vitória que o controla completamente. O medo de perder e de ser visto como fraco ou inferior.
Comparações e competição trazem a atitude de querer ser melhor ou ganhar custe o que custar, mesmo que para isso se tenha de ser desonesto, ou até eliminar o adversário. Prejudicá-lo, “cortar-lhe as pernas” para que não possa ser melhor.

Por isso é que ter amigos que não querem saber de evolução para nada é perigoso para quem quer ser feliz e criar a vida que deseja. Porque eles vão ver isso como uma tentativa de ser melhor que eles, de se sentir melhor que eles (quando não tem nada a ver com eles, mas com o desejo da própria pessoa de mudar), e vão entrar no modo de competição e tentar puxar a pessoa para baixo. Vão tentar destruir as poucas coisas novas positivas que ela criou. Vão tentar desmotivá-la a dedicar-se à sua evolução. Vão gozar com ela, mandar bocas, fazer jogos, tentar controlá-la, ameaçá-la, criticá-la, falar mal dela aos outros, etc, etc. Isto é o ego em acção.

3 – Inveja

Esta é muito simples: “Ele tem o que eu desejo, por isso a culpa de eu não ter o que desejo é dele. Porque ou era ele ou eu a ter, e é ele que tem. Logo ele está lixado comigo!”. Mais uma vez lá vem a raiva interior. Inveja surge no ego quando alguém tem algo que ele gostava de ter mas não tem. Não faz sentido nenhum, pois é uma típica atitude que vem de mentalidade de escassez (“Só há um disto!!”). Talvez uma pessoa gostasse de ter um determinado carro, e o vizinho compra honestamente um desses. O ego dessa pessoa fica logo aos pulos pois começa logo a julgar “Porque é que ele tem e eu não?? Ele é melhor que eu??”, e em vez de tentar descobrir uma forma de ter o que deseja, passa o tempo a ruminar no pensamento de que o vizinho tem e ele não, e em como pode destruir ou sabotar a felicidade do vizinho. Muito giro e completamente inútil.

4 – Conflito

Quando um ego quer “A” e outro ego quer “A”, nenhum dos dois é suficientemente evoluído para largar “A” ou ir procurar “A” noutro sítio, e então inicia-se um conflito. “A” pode ser qualquer coisa... um objecto, uma pessoa, um título, um local, etc. Um caso muito fácil de compreender é o de dois homens a lutar por uma mulher. É fácil de perceber que ambos querem a mesma mulher... e vivem dependentes dela. Por outras palavras: não têm outras opções. Muitas pessoas acham este tipo de coisas muito bonitas e dão-lhes um significado glorificado, quando na Verdade o que se passa é que nenhum dos homens tem outras opções, não tem capacidade para conhecer outras mulheres do mesmo género, e depois também não querem que seja o outro a ganhar. Raramente tem alguma coisa a ver com a mulher... mas sim com a carência e escassez em que os homens vivem, incapacidade de conhecer outras mulheres do mesmo género, e o medo de perder (competição) aliado ao desespero de precisar de ganhar sempre. No conflito já nem há bem o desejo de alcançar algo, mas sim mais de impedir o outro de lá chegar. “Sou eu contra ti e só um pode ser visto como o melhor!”. Isto é tudo muito primitivo, e infelizmente destrói muitas vidas e relações. O ego não consegue ver a longo prazo, apenas reagir à emoção do momento, como um saco de plástico do Minipreço a voar ao vento e a ir na direcção que este sopra.
Muitas pessoas querem aprender a gerir conflitos, mas a solução não é essa. É aprender a evitá-los, é deixar de precisar de os ter para se sentir melhor consigo próprio. Uma coisa é uma troca de ideias diferentes, outra coisa é querer-se destruir o outro e vê-lo como um adversário. Uma guerra onde morrem e sofrem pessoas inocentes é um conflito. Não há nada de útil em conflitos, em querer destruir o outro lado só para um ego se sentir melhor com ele próprio porque pode pensar “respondi-lhe à letra”. É completamente desnecessário. Conflitos evitam-se, não se gerem. Só o ego humano é que não os consegue evitar pois vive constantemente em estados emocionais negativos que levam naturalmente a essas situações, e uma vez desafiado precisa sempre de mostrar e provar o seu valor.

5 – A eterna necessidade de ter razão

Esta é uma das grandes causas de todos os conflitos: “Eu é que tenho razão, tu estás errado, e tens de aceitar a minha superioridade a bem ou a mal!”. Muitas discussões nada têm a ver com chegar a uma solução para algo ou evoluir. Têm só e apenas a ver com quem sai a ganhar no final e esmaga o adversário. É uma mera luta de galos cegos que reagem violentamente a tudo o que surge. Por causa desta necessidade de ter razão e de não se saber ver quando não se tem, e é a outra pessoa que de facto está certa e deve-se aceitar isso naturalmente, destroem-se muitas relações. E é óbvio que um ego não pode ter boas relações: ele só quer saber dele próprio, e se uma relação é uma ligação com outro ser humano, se não se quer verdadeiramente saber dele (e as reacções negativas constantes provam isso, pois não se cometem erros quando afinal se gosta muito da pessoa – ou se tem Compaixão ou não se tem. Pois quando se tem não se comete esses típicos erros em que depois se diz à pessoa que de facto se gosta muito dela), então é apenas uma questão de tempo até se fazer ou dizer algo contra ele, que de alguma forma o prejudique, dê problemas ou faça sofrer. Que o faça sentir-se repelido.

6 – A eterna necessidade de ser aceito

O ego não consegue viver sabendo que alguém não gosta dele, que não o aceitou, que não lhe deu validação. Muitas vezes simpatia é um esquema para se evitar ser rejeitado, não vem de Verdadeira consideração e Compaixão pelos outros. O ego, através de todo o tipo de coisas, sendo as mais famosas a adaptação e a manipulação, vai fazer de tudo para que nunca seja rejeitado ou não aceite por alguém. A consequência disto é nunca se ser Autêntico, pois cada pessoa que surge é analisada para o ego perceber como agir e ser de forma a ser aceite por essa pessoa. Muito giro, e de facto ele acaba por conseguir fazê-lo... mas quem é ele? Como é ele? Não é nada. Não é nada pois nunca é ele próprio, está-se sempre a adaptar. É como um camaleão sem cor própria. E pessoas assim nunca são de confiança, pois não há nada fixo em relação a elas. Elas não seguem nada que seja delas, apenas dos outros. O medo de serem rejeitadas controla-as completamente, pois criam a sua identidade através do que os outros pensam delas.

Rejeição só significa uma coisa: incompatibilidade. Se somos rejeitados por alguém isso não significa que não prestamos para nada e que há algo de errado em nós... significa apenas que somos diferentes da outra pessoa. As pessoas são diferentes umas das outras e apenas atraem e se sentem atraídas por pessoas do mesmo tipo, semelhantes. Que estejam a caminhar numa direcção semelhante... pois num barco se cada um estiver a remar numa direcção diferente, nenhum dos dois irá chegar onde deseja, e ao que mais o deixa feliz, em paz e realizado. Claro que, se prejudicá-mos alguém, se lhe fizemos mal, se lhe mentimos, se usámos um esquema qualquer desonesto para obter algo dela, etc, fomos rejeitados porque não tivemos consideração pela pessoa. Mas nesses casos o ego sabe sempre o que fez, e o que acontece a seguir é a vergonha de ter sido descoberto na sua fraqueza de precisar de ser desonesto e manipular para ter a companhia de alguém.

7 – Palavras incomodam

Só o ego pode ser magoado ou controlado através de palavras. Se ouvir uma crítica negativa, seja ela verdadeira ou falsa, incomoda alguém, então esse alguém é um alguém que está a ser completamente controlado pelo seu ego. O ego pega em tudo o que surge para criar a sua identidade e valor, e palavras dos outros não são excepção. Mas mais uma vez não faz sentido nenhum. Se uma pessoa é inteligente, vive a vida de uma pessoa inteligente, tem os resultados e benefícios de uma pessoa inteligente... se alguém lhe chama de burro, não faz sentido nenhum ficar incomodado com isso. Pois ela continua a ser inteligente, a ter a mesma vida, o mesmo potencial, os mesmos resultados e capacidades. As palavras não mudam nem definem nada no mundo material, fora da nossa cabeça. É o significado que lhe damos que depois cria em nós uma emoção e ou gostamos ou não gostamos. Na sua essência, o que alguém nos diz é apenas ar e som, nada mais. Depois é interpretado pela mente claro, mas no mundo real fora da nossa cabeça é apenas isso. Não afecta nada. Certamente já ouviste dizer que “As palavras leva-as o vento”. E é verdade, só que o ego consegue muitas vezes aceitar isso quando se trata de elogios ou promessas... mas quando é uma crítica negativa o vento já não as leva. Ele fica encravado nelas, a ruminar, e não tem outra escolha senão reagir-lhes e dar-lhes importância. Ele não gosta do seu significado uma vez que este lhe tira valor à identidade, e por isso sente a necessidade de as mudar. Mas são meras palavras, não mudam nada nele nem na sua vida.

Responder às coisas, defendermo-nos de palavras, não é um acto de força... bem pelo contrário. É uma expressão da grande fraqueza do ego de precisar de defender-se de algo que não tem qualquer poder. É como desembainhar a espada cada vez que uma formiga ou uma mosca passa. O Super-Homem não é o Super-Homem porque precisa de se defender dos tiros. Porque precisa de os evitar ou torná-los noutra coisa. Ele é o Super-Homem porque os tiros não o afectam. Ele leva
com eles, e não o afectam. Ele não precisa de fazer nada pois estes nem o magoam nem mudam nada na sua realidade.


8 – A eterna necessidade de mudar os outros

Esta é gira. O ego nunca consegue aceitar as coisas como elas são, principalmente se são diferentes dele ou negativas para si. Ou seja, nos seus constantes julgamentos ele acha que a pessoa “A” devia ser mais “B”, e que isso está certo e que ela é parva por não ser mais “B”. Até porque ser mais “B” até seria melhor para ela e para os que a rodeiam. Esta é a típica reacção do ego quando este começa a aprencer sobre si, e identifica nos outros reacções do ego. Depois critica-os e acha que eles deviam mudar e meter-se na evolução pessoal.

Outro exemplo são os homens ou as mulheres que conhecem alguém de quem gostam muito, mas que tem algo na sua personalidade que prejudica a relação. E então o seu objectivo torna-se mudar essa pessoa para que a relação resulte. Ou então questionam-se se o tempo não poderá mudar a outra pessoa.

Tanto no primeiro exemplo como no segundo trata-se do próprio ego humano a querer controlar os outros e impôr a sua visão. A nossa missão não é mudar os outros, é mudarmo-nos a nós e dar o exemplo. Ter Compaixão pelos outros não é achar que há algo de errado com eles e querer mudá-os, é dar-lhes a Liberdade de seguirem o seu caminho, e de poderem escolher como e quando mudar. Porque estamos cá todos para que cada um de nós aprenda as suas lições por si próprio. Só assim se evolui. Com “ajuda” de fora o que acontece é que se ganham uns alívios mas continuamos no mesmo nível de consciência.
Certamente conheces o provérbio “Não dês um peixe, ensina a pescar”. Há um nível depois disso... pois está correcto não dar o peixe (alívio) mas sim ensinar a pescar (contribuir longo prazo pois a própria pessoa aprende a fazer algo sozinha). Só que há mais um nível a seguir... que é não precisar de peixe. Mas isso não se consegue fazer pela outra pessoa. Podemos dar um peixe, podemos ensiná-la a pescar e a satisfazer sozinha essa necessidade. Mas a necessidade continua lá. A identificação com o peixe continua lá. É aqui que entram os desafios e as decisões difíceis que nos fazem transcender o ego.

Vou dar um exemplo mais prático e realista: um homem quer uma namorada. Alguém que o quisesse ajudar podia apresentar-lhe uma amiga. Nada de errado nisso, mas o homem iria continuar a não ter capacidades pessoais para conhecer mulheres. E essas capacidades pessoais, ou qualidades, são algo necessário para depois manter a ligação com essa mulher apresentada pelo amigo, fazer as coisas avançarem naturalmente e chegar ao namoro. São qualidades que ele tem de ter para atrair naturalmente uma mulher, para ser um homem desejado, e a razão pela qual ele não tem namorada é porque não tem essas qualidades. O amigo na Verdade não o estava ajudar, apesar de ter a melhor das intenções estava apenas a tentar aliviar o sofrimento dele. O que iria acontecer é que eles iriam falar um pouco mas a mulher pouco ou nada se iria sentir atraída, pois a interacção não iria ser estimulante, e as energias da Atracção Natural não iriam estar presentes. Portanto ele “tinha” o peixe, mas continuava a não saber pescar, nem sequer sabia o que fazer com o peixe.
O nível seguinte é de facto ensiná-lo a pescar. Ensiná-lo como conhecer mulheres, como ser aceite por mulheres, ter a sua companhia e chegar a algo físico com elas. E ele até podia aprender tudo isto muito bem... mas como? Como é que ele o estava a fazer? Através de truques e esquemas? Através de jogos, desonestidade e manipulação? Com medo de ser rejeitado? Dependente da validação das mulheres para se sentir um homem? Dependente de resultados e quantidade? E apenas para obter algo delas?

São este tipo de coisas que surgem quando o ego controla. Ele só quer saber dele próprio e do que obtém, logo o que interessa são os resultados e não como ele chega a estes. Vale tudo.

Portanto o homem sabe agora pescar sozinho e arranjar o seu próprio peixe. Mas questiona-se: “Porque a qualidade do peixe não me satisfaz a um nível profundo? Porque será que não consigo estar muito tempo sem ter um peixe novo e diferente? Porque será que me sinto mal quando não tenho um peixe e preciso de fazer os outros saber que pesco peixes regularmente? Porque será que apesar de ter todos estes peixes regularmente, continuo a ter medo de não conseguir pescar um, e continuo a sofrer na vida, a sentir um vazio?”

Este é o 3º nível: não precisar do peixe. É uma mentalidade e atitude completamente diferentes. Não quer dizer que vai deixar de pescar... quer dizer que essa actividade se torna diferente. Ele deixa de precisar do peixe, deixa de o ver como algo que precisa e tem de obter, como um prémio ou algo que o faz sentir-se bem com ele próprio, e passa a relacionar-se com o peixe pelo puro prazer de fazer o peixe sentir-se bem e feliz.
A metáfora não é perfeita, até porque as mulheres não são peixes, e conhecer mulheres não tem nada a ver com pescar, mas o homem deixa de ver o peixe como algo que precisa, como um “mal” necessário para se sentir bem, que tem de pescar senão está tramado... e passa a vê-lo como um amigo, como algo especial que o fascina, com quem quer nadar, e para quem quer contribuir e fazer sentir bem e feliz. O homem deixa de apenas pensar nele, e passa a pensar nos dois. Sim, porque se o peixe for um tubarão, se calhar não é boa ideia nadar com ele. O homem não precisa de julgar raivosamente o tubarão, não precisa de lhe fazer mal, nem de lhe mandar uma boca, nem de o prender, nem de nada. Simplesmente apercebe-se que não é boa ideia ir nadar com o tubarão e por isso afasta-se em silêncio, não julgando o tubarão, tendo Compaixão por ele e pelo sofrimento dele, e deixando-o seguir em paz o seu caminho.

E ele não sente a necessidade de mudar o tubarão, pois não há nada de errado com o tubarão. Ele é como é, está a seguir o seu caminho, e irá aprender as suas lições e evoluir a seu tempo. A única coisa que se passa é que no momento em que o homem descobriu o tubarão, este estava num nível de consciência que lhe podia ter destruído a vida ou trazer muito sofrimento desnecessário e problemas/dores de cabeça extras. Quando falo em tubarão estou claro na Verdade a falar, por exemplo, dos manipuladores desonestos.

Para acabar este ponto, a nossa missão não é mudar os outros. Não é impôr uma mudança aos outros. É ajudar a essa mudança se formos requisitados para isso. E se não formos, mas vermos que a outra pessoa tem algo sério que prejudica a relação, então a decisão mais útil não é ficar à espera que ela mude nem é ficar com ela independentemente disso... é deixá-la ir e seguir o seu caminho, enquanto nós seguimos o nosso. Saber deixar os outros ir e desaparecerem da nossa vida é um dos processos mais poderosos em termos de evolução e transcendência do ego.

9 – Dependência material

Se é muito importante para alguém ter algo material, então temos um ego a controlar. Se é muito importante para alguém ter um determinado carro, ou guitarra, ou máquina, ou roupa, ou objecto, essa é uma típica e clara expressão de identificação com o mundo material. Quando o que existe no mundo material é demasiado importante para alguém... vai haver sofrimento. As pessoas criam a sua identidade e valor à volta e através de objectos, quando são coisas completamente desligadas. O segredo não está em ter-se finalmente algo que se deseja, mas sim não se precisar de o ter. Não quer dizer que não se o tenha também, quer dizer é que não se depende disso para nos sentirmos bem e em paz, e se não tivermos o que desejamos/precisamos não ficamos incomodados com isso.

Uma das coisas que mais em ajudaram, e foi das primeiras que eu fiz na minha caminhada consciente de evolução, foi deitar coisas para o lixo. Noutras palavras, todo o tipo de objectos que eu percebi que não me estavam a ajudar a mudar na direcção que desejava. Desidentificação com objectos é super importante, e esta só acontece quando de facto são coisas às quais damos muita importância e significado. Querer comprar algo, poder comprar e não comprar, é outro processo muito útil.

10 – Manipulação e desonestidade

Estas são as ferramentas favoritas do ego humano para obter dos outros aquilo que deseja. O ego humano adora aprender sobre manipulação e como controlar os outros. Ele está sempre aberto à ideia de mentir desde que obtenha o que deseja. Ele adora forçar as coisas com os outros quando não consegue obter o que deseja à primeira. Não lhe interessa se a outra pessoa está na Verdade a ser enganada por ele, ele não quer saber dela para nada. Ele quer é obter o que deseja dela e pronto. E depois, claro, arranja justificações bonitas para o fazer. Pinta toda a actividade de manipulação, persuasão e influência de cor-de-rosa para que a possa praticar sem ser julgado pelos outros.

Não só é um nível de consciência muito baixo pois não há qualquer consideração pelos outros, como ainda é um processo de auto-destruição, uma vez que manipulação atrai manipulação e desonestidade atrai desonestidade. As pessoas íntegras e autênticas, ao se aperceberem que estão diante de um manipulador desonesto não se vão sentir atraídas. Aquela é a última vez que ele as vê. E não há discussões, nem críticas, nem bocas, nem nada. A ligação desfaz-se tão naturalmente e pacíficamente como surgiu, pois é tudo realizado através de Compaixão. Mas quando um manipulador desonesto se apercebe que está diante de um manipulador desonesto (MD), a primeira e única coisa que lhe vem à cabeça não “ele é um MD, logo não vou investir mais nesta ligação”, mas sim “como é que eu consigo obter dele o que desejo e fazer isto resultar?”
Torna-se numa competição ridícula, um jogo de poder infantil e primitivo que não serve nenhum dos lados. É cada um a puxar para o seu lado a querer derrubar o adversário. Não há qualquer tipo de selecção, contribuição ou compaixão. E depois estas pessoas metem-se em relações íntimas umas com as outras e admiram-se que foram traídas, espancadas, enganadas e questionam-se porque as suas relações nunca resultam.

Dica: como se lida com manipuladores desonestos? Como se lida com egos humanos? Não se lida, evita-se. Corta-se ali a relação ou ligação. Procurar lidar com eles é meter-se na actividade dos jogos, manipulações e desonestidades, sem consideração, sem ver que há um ser humano do outro lado que também sofre, que também tem problemas, preocupações e inseguranças. Há um afastamento natural sem julgamentos e nada mais. Cumpriste a tua parte de ter Compaixão, a outra pessoa meteu-se com jogos e não a soube aceitar, então é o adeus pacífico, firme e honesto. Investe o teu tempo e energia em quem de facto te merece, em quem vive com Compaixão, Coragem e Integridade, e não com mentiras, jogos e manipulações. Com quem vive para Contribuir para o Todo, e não para meter “matéria aos bolsos” e “sacar energia” aos outros. Com quem de facto tem prazer em viver e apreciar a tua companhia e partilhar momentos divertidos e estimulates contigo, e não com quem apenas está contigo e passa esses momentos contigo pelo que pode vir a acontecer a seguir.

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