sábado, 10 de julho de 2010

Amor, Medo e Entrega

Mais um trecho do Livro " O Caminho para o Amor" do meu ídolo, rs, Deepak Chopra:

"Sei o que você está pensando", declarou Delaney. "Acha que sou exigente demais, não é? Mas eu não acho que esteja pedindo demais. Não é que ela precise ser linda de morrer ou uma Ph.D."

"Você simplesmente precisa ter padrões", sugeri.

"Certo. Eu penso nisso como se fosse um pacote. Se o pacote como um todo está certo, os detalhes não são tão importantes assim."

"Isso se ela, seja quem for, gostar do seu pacote", observei. Delaney concordou. Ele era incrivelmente imune à ironia, e eu sabia que não era justo usá-la contra ele. Ele realmente queria se apaixonar - era a sua maior meta na vida - e já que Delaney tivera sucesso em todas suas demais metas, era frustrante ver como esta era difícil.

Certa vez, eu e ele fizemos residência juntos em Boston, onde ele fora criado numa família da classe trabalhadora, e mais tarde trabalhamos à noite na mesma unidade de emergência do subúrbio para conseguirmos pagar as contas.

Havia 15 anos que ele estabelecera sua prática cardiológica, e só agora, com quarenta e poucos anos, é que Delaney sentia-se seguro para procurar uma companheira. Era difícil para ele esconder como estava confuso sobre o que se passava em sua mente.

"Graças a Deus não sou um desses caras que está trocando a esposa de 30 anos por uma namorada de vinte e poucos anos", disse ele. "Para mim este é um novo começo. Estou otimista, sou paciente, mas acho..."

"O quê?"

Delaney desviou o olhar, com uma leve nuvem de dúvida no rosto. "Não sei. Talvez eu seja velho demais", murmurou.

"Ou exigente demais", respondi. "Uma garota de vinte e poucos anos não faz parte do pacote que está procurando? Seja honesto."

Ele deu de ombros com um ar inocente.
Um sujeito pode ter esperanças."

Senti uma súbita intranqüilidade em relação a Delaney e seu mais recente projeto, seguida imediatamente por uma onda de tristeza. O fato de nossa cultura nos ensinar tão pouco sobre o amor estava me olhando de frente.
Nós tínhamos conversado sobre a "vida amorosa" de um homem por uma hora e no entanto ainda não tínhamos tocado em nada remotamente parecido com o amor.

"Você já se apaixonou antes?", perguntei. "De verdade?"

Delaney pareceu surpreso, aparentemente sem pensar que nossa conversa tomaria um caráter tão pessoal; ele hesitou.

"Bem, não estou chegando do nada nessa coisa", declarou. "Já tive momentos realmente adoráveis, e muitas mulheres querem sair comigo."

"Escute, não precisamos ir a nenhum lugar que você não queira", falei calmamente. "Mas acho que está sentindo-se um pouco perdido." Ele enrijeceu-se, e pude ver que estava recuando internamente. Continuei: "Isso não foi uma acusação. É natural sentir-se perdido. Especialmente se você não está procurando nos lugares certos."

"Detesto os lugares onde vou", ele retrucou com raiva.

"Os bares? Todo mundo detesta esses lugares", retorqui. "Mas não foi isso que quis dizer. Você não está olhando dentro de si - o lugar onde ela está, seja ela quem for."

Delaney olhou para mim como se eu estivesse me divertindo com paradoxos, mas insisti. "Você realizou muitas coisas em sua vida e basicamente usou a mesma abordagem o tempo todo. Você vê um desafio, reúne seus recursos e com auto-confiança você consegue
o que quer. Está certo, não é?" Ele concordou. "Conseguir qualquer coisa importante envolve risco", afirmei, "e portanto medo. Mas se deixar o medo dominá-lo, você nunca vai se arriscar,
e portanto não será capaz de realizar nada."

"Você está dizendo que eu tenho medo de me apaixonar?" ele perguntou. "Então por que estou querendo me apaixonar?

"Oh, não estou dizendo isso", repliquei. "Mas o amor e o medo muitas vezes se tocam, e pessoas como você, que realizaram coisas muito difíceis - conseguir pagar sua faculdade de medicina, abrir seu próprio consultório, conseguir dinheiro para expansão e novos empreendimentos - aprendem a tirar o medo do quadro. E não é só o medo - a dúvida, a confusão , o desespero, a desesperança - a maioria das fragilidades humanas, em suma. Manter suas fragilidades fora de seu campo de visão torna-se extremamente importante se você quer realizar qualquer coisa no mundo, mas isso é exatamente o contrário daquilo que o amor exige."

Delaney fez uma careta. Pude ver que ele não gostava da palavra exige. "Eu tenho fraquezas, como todo mundo", respondeu. "O que quer que eu faça - ir por aí mostrando como sou vulnerável, até que alguma mulher tenha pena de mim?"

"Você está exagerando porque realmente detesta a idéia", repliquei. "Não, você não precisa atrair a piedade. O que estou tentando dizer é que a vida "normal" exige que todos pareçam o mais fortes possível, e que essa tática, que pode funcionar em outras áreas, fracassa miseravelmente na questão do amor."

Como a maioria das pessoas, Delaney nunca havia pensado em como seu mundo interior fora construído, mas todos nós criamos divisões psicológicas como meio de sobrevivência.

Nós criamos muros para compartimentos internos e então enterramos neles todas as coisas indesejáveis sobre nós mesmos - nossos medos, fraquezas e fracassos secretos, nosso profundo senso de dúvida, nossa crença de que podemos ser feios ou indignos de amor.
Todo mundo possui esses quartos escuros da alma.

"Você pensa que merece ser amado?", perguntei a Delaney.

"Meu Deus, que pergunta!", ele deixou escapar. "Não é nada em que eu fique pensando. Eu simplesmente quero me casar, sabe, como tudo mundo."

"Essa pergunta chocaria muitas pessoas, falei, "mas por quê? É embaraçoso achar que não se é digno de amor? O desconforto surge porque o amor pode parecer pessoal demais, até mesmo para nós mesmos; ele toca nos compartimentos onde nossa auto-imagem negativa é armazenada. Infelizmente, apaixonar-se significa entrar aí - é isso que o amor exige."

O verdadeiro amor é mais perigoso do que a maioria das pessoas está disposta a admitir. Ele causa o mesmo desconforto que os sonhos onde você descobre que está nu num lugar público. Se ficar apaixonado significasse entrar em todas as câmaras escuras da alma, nenhum de nós se arriscaria. Por outro lado, amar outra pessoa, envolve abrir todo o seu ser. O que torna o risco possível é o ingrediente do espírito.

O espírito é o verdadeiro você, além de todas as divisões entre bom e mau, desejável e indesejável, digno de amor e indigno. O amor expõe essa realidade, e é por isso que apaixonar-se é um estado abençoado. Para muitas pessoas este será o único estado que conhecerão na vida.

Os tons espirituais do amor romântico são inconfundíveis. Primeiro existe uma tremenda abertura emocional, uma liberação. Todo o seu ser flui na direção do amado, como se os dois compartilhassem os mesmos sentimentos, os mesmos gostos e aversões, quase a mesma respiração.

O efeito secundário desse deleite é uma liberação de preocupações e ansiedades;
a nuvem do enamoramento engole as preocupações com trivialidades como dinheiro, carreira e o destino da humanidade. Mesmo que você não tenha nenhuma fundamentação espiritual, teria provado a doçura da alma ao se apaixonar. Como escreveu o grande poeta persa Rumi:

"Quando o amor provou pela primeira vez os lábios de um ser humano, Ele começou a cantar."


Harley.


Extraído do livro " O Caminho para o Amor", autor: Deepak Chopra

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